segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Tudo novo

10h

Pronto! Dentro da mala um punhado de roupas, alguns livros, meia dúzia de memórias e uma dezena de casacos de frio. Em poucas horas estarei embarcando para uma temporada de 10 meses em intercâmbio no Canadá. Outras pessoas, outros amigos, outro trabalho, outra faculdade, outra cultura, outra música, outra comida, outra cama, vida nova. Foi tudo tão de repente que ainda nem tive tempo de pensar direito nisso que estou fazendo. Tampouco tenho tempo agora: acabei de acordar, preciso passar no banco e tranferir os 340 $ que garantem um lugar onde dormir tão logo eu chegar. Sim, deixei isso também para a úlima hora, como quase todo o resto. Talvez no avião eu tenha uns 30 minutinhos até que a ficha caia.

16h35

Não quero pensar, não quero pensar...Em mim não há qualquer lamento enquanto o avião sobe e Brasília fica menor que o resto do mundo, fica pra trás. Ainda acho que só vou até ali, e logo mais estou de volta. Não tem porque dramatizar.

Talvez minha m
ãe pense diferente. Mesmo assim, não vou dizer que a despedida foi difícil só pra ficar mais bonito. Eu realmente acho que o Canadá, com a internet e tudo o mais, nem é tão longe assim, e 10 meses passam sem nem sentir. É o tempo que dura uma novela, e logo que começa a outra, ninguém lembra mais da anterior. Bom, estou começando a minha nova novela. Esse é o primeiro capítulo.

Viajar em intercâmbio foi algo que sempre quis fazer. Me parece que n
ão se completa uma juventude sem a experiência arriscada de descobrir como se virar num lugar completamente adverso ao qual se está acostumado, longe dos olhos vigilantes e das asas protetoras dos pais. E os desafios na verdade me excitam.

Vou poder melhorar o francês e o inglês, aproveitar os conhecimentos de uma universidade norte-americana no que diz respeito à comunicação, meu domínio de interesse, e, portanto, dar um upgrade no meu currículo. Daqui a 10 anos, terei 30 e serei um cara graduado em jornalismo por uma universidade federal no Brasil, fluente em duas línguas estrangeiras, e que teve a chance de estudar na Universidade do Québec, uma das melhores da América. Na verdade isso não quer dizer nada, nem aqui, nem lá, nem na China. Mas é bom pra conseguir emprego. Estou indo em busca de mais do que isso: quero viver, quero estar. É experimentar tudo, todos e mais um pouco que eu quero. Quero descobrir o quão grande é o meu mundo que, hoje, cabe dentro de um aquário.

Me interessa saber de sua rotina, das suas piadas, dos seus programas preferidos. Quero fazer o que fazem os jovens, as crianças e os velhos. Quero passar o fim de semana na Pirenópolis de lá, falando mal do Roriz de lá, lendo a Turma da Mônica deles, bebendo o Guaraná Antártica que eles bebem. Aonde eles compram p
ão, cadarço de tênis e grafite 0.5? Mais: quero saber como vou me sair longe de tudo o que eu chamo de meu e que faz da minha vida muito mais confortável. Quero sair do conforto. Quero me virar num país diferente.